Informação Técnica:
Tipo de escalada – Desportiva, clássica e artificial. Apesar de um considerável número de vias equipadas, a escalada enquadra-se mais num estilo mais de aventura, apesar de possuir várias vias destinadas à iniciação de escalada em placa.
Vias – 29 vias do III+ até ao 7b (1 projeto de oitavo). A intervenção 20/20 foi apenas realizada nas vias da Parede Principal, Diedro Pacheco e Parede dos Iniciantes. No total foram reequipadas 10 vias, equipadas mais 6 e abertas mais 2. Nestes sectores, ficaram ainda 4 vias por concluir o trabalho de reequipamento, sendo que duas delas são possíveis de escalar usando o material original. Assim que possível será concluído esse trabalho.
Tipo de Rocha – Granito, com cristais bastante sólidos no geral, algumas fissuras e formações rochosas que criam regletes, planos e buracos.
Época – Sombra de manhã. Transição Primavera-Verão e Verão-Outono. No entanto, é possível escalar no Verão até às 12h, apesar do risco de se poderem converter num pedaço de cortiça quando o sol atinge a parede. Bem como, é possível escalar nos dias mais soalheiros de inverno, apesar de algumas vias terem tendência a formar escorrências que tardam em secar.
Material – Dado o tamanho das vias é necessário um bom conjunto de expressos para realizar as vias por completo. No geral um conjunto de 15 expressos pode ser suficiente para a maioria das vias (ver croqui), bem como uma corda de 70 mts. No entanto, há várias vias com reunião intermédia, o que permite não só, escalar as vias na sua totalidade com cordas mais curtas, ou apenas ficar pela metade das mesmas. Em algumas vias é necessário a utilização de material de autoproteção na sua totalidade ou em algumas secções (ver croqui).
Advertências e recomendações:
- A zona insere-se em espaço privado da responsabilidade da Confraria da Nossa Senhora do Pilar. Por isso a escalada neste local depende da boa relação entre a Confraria e os escaladores, no respeito pelo espaço envolvente e estacionamento. O espaço é bastante frequentado como ponto turístico, mas também como local de cerimónias religiosas;
- É recomendado o uso de capacete, não só pelas questões de segurança relacionadas com a escalada, mas também pelo facto de circularem pessoas por cima das vias e poderem por descuido ou falta de civismo provocar a queda de objetos pela parede;
- A escalada em meio natural é uma atividade que implica riscos não controlados, que podem provocar lesões graves e até mesmo ter um desenlace fatal. Deve estar seguro dos seus conhecimentos ou capacidade para avaliar os diversos riscos e acima de tudo saber assumi-los. Recomenda-se a prática de escalada com licença federativa e respetivo seguro em dia, a fim de salvaguardar em caso de acidente o acesso a cuidados médicos, com o devido enquadramento e possíveis futuros problemas com as diversas entidades, que podem resultar em questões jurídicas e proibições das zonas de escalada. Para mais informações:
ZONA DE ESCALADA DE MONTE PILAR - Póvoa do Lanhoso
Enquadramento Histórico da Zona de Escalada
Deve haver muito a dizer sobre a história desta zona e seguramente que eu não sou a pessoa mais indicada para o fazer. Talvez de um passado mais longínquo, a pessoa mais indicada pudesse ser o professor José Hermano de Saraiva, imortalizado pelo seu programa na RTP1, Horizontes da Memória. Não quer dizer que seja a pessoa que mais soubesse sobre o assunto, mas sim, pela forma como conduzia e recriava a narrativa. Para quem gostar de História e histórias, pode sempre o ver a falar sobre o assunto numa dessas plataformas de vídeo na internet. Da história mais recente e que nos diz mais respeito, talvez os pioneiros da escalada neste local. Quem sabe, talvez nos comentários desta publicação possam surgir dados mais concretos, ou um dia destes, depois de tudo isto acalmar, não nos possamos reunir todos à mesa, após um dia de escalada por estas paredes e partilharem todas essas histórias?! Enquanto isso, fica este registo, que não passa da recriação individual da perceção dos factos, que pode pecar pela imprecisão e desconhecimento real dos mesmos.
Certo é, que a localização deste rochedo nunca passou indiferente pela fortaleza natural que oferecia. Assim, foi local de refúgio dos povoados celtas, de condes, condessas e reis, tendo assumido um papel importante na independência do Condado e futuro Reino.
Da mesma forma que não passou indiferente no passado, a mesma formação rochosa, não passou despercebida aos olhos das gentes aventureiras da montanha, que nos finais dos anos 80 buscavam desafios mais verticais. Foi então, que no ano de 1988, os incontornáveis irmãos Pacheco chegaram a esta parede e abriram a 12 de março a Via do Diedro. Com um conjunto de materiais limitados, só com entaladores, desafiaram aquele diedro que se estendia ao longo de toda a parede. Pelas palavras de Pedro Pacheco, “a abertura do diedro foi dos meus bons objetivos, pois sabia que à partida poderia proteger só com entaladores. Foi aberto de baixo. As grandes dificuldades foram a sujidade, pois além de muito musgo tinha mesmo muitas silvas, que eu ia limpando à medida que subida!!!” Nesse mesmo ano equipam Azeite a Ferver, uma via que se inicia por um pequeno esporão à esquerda do grande tecto. Realizaram ainda a escalada em top-rope de um diedro colado à esquerda desse grande tecto.
As aberturas dos irmãos Pacheco iam despertando a curiosidade de outros escaladores da época e da geração de escaladores que estava a surgir. Viam nas suas aberturas motivação para o desafio de as repetir, ou inspiração para novas aberturas. Zonas como a Meadinha, também eram um aliciante de assédio para escaladores já minimamente “esclarecidos”, já para não falar daqueles que buscavam forma de se prepararem para outras paragens mais alpinas. Novas zonas e novas vias foram surgindo. Com a chegada dos “spits”, aumentou o leque de possibilidades e permitiu o equipamento das placas graníticas que anteriormente apenas poderiam ser vencidas com recurso aos duvidosos buris, numa progressão lenta, quase sempre em artificial, dado que os mesmos não estavam feitos para aguentar com grandes cargas. Com os “spits”, começou a surgir e a evoluir um novo conceito, a escalada desportiva, que era vista como um meio de treino ou de preparação para a escalada de grandes paredes ou de montanhas mais vertiginosas.
O surgimento das novas vias de escalada nas placas do castelo está ligado a esses movimentos e à evolução dos materiais na escalada. As vias passam a ser equipadas, com o acesso desde cima em rapel, a distância entre pontos é definida pelo critério usado pelo equipador, que pode ir desde o número escasso de pontos que tem disponível, ao tempo e paciência gasta para a perfuração manual e colocação dos mesmos. Logo era natural a vontade de os “espaçar”, além de darem às vias alguma da emoção que naturalmente as grandes aberturas tinham, a gestão do subjetivo factor psicológico.
Seguiram-se os anos dourados desta zona de escalada, à medida em que via atrás de via ia sendo equipada. Contudo, dessa época poucas informações palpáveis e acessíveis chegaram até aos dias de hoje, apenas que foram protagonistas, um escalador catalão de nome Jordi, que passou uma temporada no norte do país para construir algumas paredes de escalada e que terá possivelmente colocado vários tops espalhados pela parede. Talvez possa ter realizado o equipamento completo de alguma via? Também o CNM, por intermédio de alguns dos seus membros mais ativos da época e que seria de mérito enunciá-los. Talvez se possa reunir essa informação, juntamente com os nomes das vias equipadas.
Com o passar do tempo, aos poucos os escaladores foram progressivamente deixando de escalar de forma mais assídua e o musgo foi cobrindo parte da parede e a sua história não foi passada à geração seguinte.
Reequipamento 20/20
A intervenção nas vias de escalada do Monte do Pilar (face sudoeste) que relatamos, iniciou-se em Maio de 2020. Contudo a história é bem mais antiga. Vários foram os momentos, que em conversas entre vários escaladores da zona norte se manifestou a vontade de recuperar aquela zona de escalada. Lembro-me de quando comecei a escalar já se falava em reequipar aquelas vias e entretanto, já lá vão quase 20 anos. A juntar ao reequipamento, surgia também o problema da camada de musgo que cobriam algumas das vias menos utilizadas, que com o progressivo abandono da zona, acabou por se alargar às restantes vias.
Algumas tentativas de limpeza foram sendo feitas, algumas por conhecimento próprio, como os relatos do Cardi, sobre os dias de esfrega que levou, juntamente com o Botas, a escovarem aquelas vias. Ou do dia em que o Jorge Martins arranjou um camião dos Bombeiros e onde eu, juntamente com o Paulinho, lá baixamos, meio inocentes e pouco esclarecidos para dar umas mangueiradas na parede. Mas entretanto, já passaram mais de 15 anos… e seguramente, que a estas se juntaram outras iniciativas. Isto, já para não falar do princípio do “utilizador-escovador”, que percebe que uma escova de aço faz parte do material de uso obrigatório nas zonas de escalada do Norte, e sempre vai escovando no local que usa para pôr as mãos e os pés, possibilitando que as vias se mantenham minimamente “escaláveis”.
Também são visíveis alguns sinais de reequipamento esporádico, como na via à esquerda da Via do Diedro, que se encontrava há algum tempo reequipada quase na totalidade com material inox e tendo sido colocada uma reunião intermédia; bem como alguns parabolts inox espalhados na Placa dos Iniciantes ou mesmo a existência de uma via que de momento ainda se encontra por reequipar e onde são visíveis a presença de furos já feitos ao longo da mesma. A autoria dessas ações, desconheço.
Assim, todo este processo começou com uma nova visita ao local após o confinamento, com a ideia de escalar algumas das vias da parede principal, em especial aquelas duas vias que terminavam com umas fissuras ervosas. E claro, a Via do Diedro, por toda a sua história e estilo de abertura.
Inicialmente tive que pôr mãos à obra e tirar por alto as camadas de musgos. Depois, arranjar alguém que se motivasse a escalar aquelas vias comigo. Mas quem é que se motiva com vias em placa, meio sujas, com os pontos algo distanciados e ainda por cima com o material em mau estado? Foi fácil, com todos estes ingredientes o Sesa e a Natália estavam lá comigo no fim-de-semana seguinte. Mas não sem antes, o Sesa me ter atirado à cara que já tinha escalado a Via do Diedro.
E de repente, à medida que escalávamos cada via, ia crescendo a nossa vontade de limpar mais um pouco, ou melhor, de limpar para escalar mais um pouco. Da minha parte, inicialmente isso só aconteceu, porque tinha a Via do Diedro molhada com uma insistente escorrência. Assim, permitiu concentrarmo-nos em limpar as placas cada vez mais para a esquerda, e ir desenterrado via atrás via, como se de um processo arqueológico se tratasse. Neste processo, foi crescendo a ideia de reequipar aquelas vias, dada a qualidade das mesmas. É claro, que isso implicaria uma limpeza das vias muito mais profunda, para que se pudessem manter escaláveis por mais tempo. A ideia era fantástica, mas o trabalho era de loucos dada a dimensão da empreitada. Mas como vínhamos de um confinamento, não estávamos precisamente no pleno das nossas capacidades mentais, com “fome” não sei bem de quê, desencadeamos um processo metamórfico como se uma praga de gafanhotos se tratasse. É claro que do discurso à prática, da vontade ao fazer, o processo foi lento e moroso, desenvolvido por diferentes fases e ritmos, até ao início do mês de outubro. Variou entre a ilusão inicial, a motivação em ver o trabalho ganhar forma ou da “obrigação” de não o querermos deixar a meio… o ritmo com que o aço desaparecia das escovas, a dificuldade em as adquirir quando acabámos com o stock das lojas de ferragens, os preços “criminais” praticados nos armazéns mais comerciais, as contas que se fazia ao material fixo que restava, a espera pela chegada de novo material, o calor sufocante, a satisfação no desejo de uma refrescante cerveja e de ver mais uma via concluída.
Filosofia de reequipamento
Muito há a dizer quando o assunto é reequipar. Normalmente são assuntos que levantam várias questões, críticas e com alguma regularidade, polémica. O próprio termo não é consensual, pois pode levar a mal-entendidos, no sentido de se correr o risco de ver linhas de clássica a aumentar o número de expansivos aquando da substituição do material antigo e em estado precário por material novo, preferindo por isso alguns chamarem a esse trabalho, restaurar. No entanto, o problema para mim não é do termo, mas sim da falta de capacidade técnica e ética para o saber aplicar. Se a capacidade técnica é relativamente fácil de adquirir e discutir, baseados em fundamentos científicos, a ética é mais complexa, em especial quando a discussão é feita por gerações diferentes, com visões diferentes sobre o que é a Escalada. Mas ainda assim, creio que o problema não é de uma visão geracional, mas sim, de gente pouco esclarecida.
O reequipamento requer sempre uma reflexão mais complexa do que simplesmente chegar e trocar ponto por ponto, o dito reequipamento 1x1, ou “olho por olho”, onde o trabalho pode correr o risco de ser feito por um cegueta, incapaz de perceber todo um conceito do que é reequipar, utilizado assim uma fórmula básica, típico de quem ainda está a começar a aprender a tabuada, ou não consegue passar da tabuada do 1. Assim, reequipar deveria também estar implícito, o refletir e o respeitar. E foi isso que tentamos fazer. Logo à partida esbarrámos num factor condicionante. Quem equipou aquelas vias? Há exceção de um croqui antigo das vias abertas pelos irmãos Pacheco e da autoria dos mesmos, as outras vias eram atribuídas a um Catalão e a elementos do CNM, durante os anos noventa, mas que infelizmente não se conseguiu chegar à fala. Este foi o nosso primeiro constrangimento para dar início ao reequipamento.
No entanto, as vias estavam escovadas e o peso de caírem de novo no esquecimento foi preponderante na nossa hesitação. As primeiras vias foram as duas imediatamente à esquerda da Via do Diedro. Numa delas aproveitamos já o facto de se encontrar mais de metade da mesma reequipada com material inox e aproveitamos o conceito utilizado pelos reequipadores anteriores de colocar uma reunião intermédia na via. Assim, e uma vez que a primeira metade parede coincide com a parte mais fácil das vias, com uma dificuldade técnica que ronda entre o IV e o 6a, utilizámos a mesma filosofia e colocamos em várias vias reuniões intermédias, para que todos os escaladores possam usufruir dessa parte das vias. Nessas partes inferiores foi aumentado o número de pontos fixos, de forma a salvaguardar, a segurança de todos os escaladores. As partes superiores dessas vias, apesar de alguns reajustes, foi mantido o conceito de distanciamento entre pontos, dado o carácter mais de aventura deste estilo de escalada, permitindo alguma aproximação a zonas como Faro Budino e a Meadinha, salvaguardando claro, as devidas exceções e particularidades de cada zona. Foram alteradas as posições de algumas reuniões para que fosse reduzido o atrito. Na Via do Diedro foram retirados todos os pontos fixos (à exceção da reunião que foi reequipada), dado que a mesma foi aberta sem colocação de qualquer material fixo. As duas vias imediatamente à esquerda da Via do Diedro, que na metade superior se encontra uma fissura, foram retirados os parabolts, onde no mesmo local se pode auto-proteger com entaladores.
Na parede dos iniciantes, no geral foram aumentadas algumas das vias no sentido de aproveitar a placa na sua total extensão. Aqui, no geral procedeu-se a uma diminuição da distância entre pontos, dada as características das vias, que não apresentam grande dificuldade técnica e ideal para escaladores que se estejam a iniciar. Foi colocada no meio da parede uma reunião intermédia, no sentido de permitir a escalada daquelas vias para quem não tenha uma corda de 70mts ou um conjunto alargado de cintas expresso.
O reequipamento realizado até ao momento, foi particamente na sua totalidade, realizado com varões roscados (M-10) em inox A4, fixados com ampolas e resina química. Apenas foram utilizados em alguns casos parabolts (A4), normalmente apenas num dos pontos da reunião por facilitar o acesso à área de trabalho ou por colocação à posteriori de reunião com corrente. A via existente no Diedro Pacheco, que possuía apenas 3 pontos e sem top, além de ser aumentada a sua extensão, também ficou toda ela a parabolts (inox A4).
Ainda faltam concluir alguns trabalhos, como o reequipamento de algumas vias e tapar os buracos dos furos antigos, apesar de na Placa dos Iniciantes já ter sido iniciado. De qualquer forma, apesar de inestéticos, servem nesta primeira fase de referência, enquadramento ou para crítica do trabalho realizado.
Agradecimentos:
ZONA DE ESCALADA DA FRAGA, Vila Nova de Poiares
Uma zona de escalada quase exclusiva para iniciação e para os diferentes níveis etários nem sempre é fácil encontrar no nosso país e mesmo as vias de grau mais acessível dos sectores de escalada que encontramos nem sempre permitem a iniciação para os mais jovens. É comum em França, Espanha e em toda a Europa encontrar em muitas zonas de escalada, vias que proporcionam o ambiente familiar com muitas crianças a escalar de forma autónoma. Quando mergulhamos na realidade portuguesa não encontramos isso tão facilmente. Não será um dos fatores que condicionam a evolução da escalada em Portugal?
A FPME tem presente que para o desenvolvimento de uma zona de escalada com tais características, é necessária a parceria com entidades públicas, municípios, clubes entre outros organismos para que assim se cumpram os desígnios a que a Federação se propõe para o desenvolvimento da modalidade.
Recuemos um pouco até ao início de 2018.
Numa conversa antiga com o José Miguel Pereira (autor da primeira via no Penedo da Desgraça) falou-se de uma falésia em Vila Nova de Poiares com potencial para abertura de vias de desportiva. Aproveitando um dos momentos em que tais memórias vêm à cabeça, decidi visitar o local.
Chegado a Vila Nova de Poiares, na rotunda que demarca a interseção da famosa Nacional 2 com a EN17, avistei uma linha de cumeada à minha esquerda e deduzi que seria o local que correspondia à descrição do José Miguel. Já na EN17, perto do local, rumei à minha direita em direção ao “Complexo de Piscinas da Fraga”. Continuando na estrada principal até à aldeia de Alveite Grande, deparei-me com uma falésia de quartzito, estacionei o carro e na estrada orientado de frente para a dita falésia, a uma distância de aproximadamente 100 metros, apreciei de facto a existência do potencial, “agora faltava confirmar”. Feita a aproximação ao sector principal surgiram-me algumas dúvidas, não pela qualidade da rocha e da escalada, mas sim pelo investimento de material e empenho que seriam necessários para a criação de uma zona de escalada.
Após ter reconhecido o sector mais evidente, fiz uma abordagem aos afloramentos rochosos mais acima e fui surpreendido por uma pequena falésia, escondida por sobreiros queimados e por jovens eucaliptos, que rompiam as terras sofridas pelo violento incêndio de outubro de 2017. Descrevendo a surpresa ao ver a pequena falésia, se me permitem, veio-me à memória uma experiência de escalada em Ailefroide (França), num sector de vias de placa onde observei crianças com idades de 8 a 10 anos perfeitamente autónomas a escalar. Realidade muito rara em Portugal, infelizmente. Voltando ao potencial sector de escalada, não de vias de dificuldade, mas sim de iniciação à prática, este sector poderia servir muito bem para o enquadramento da modalidade para os mais jovens.
No entanto, a pretensão em dar vida a uma nova zona de escalada ficaria a marinar por algum tempo, seria necessário encontrar tempo, motivação e meios. Na realidade, ao refletir sobre o que vi, rapidamente cheguei à conclusão que para este local serviria um projeto entre a Federação e a Autarquia.
Por coincidência no final do verão de 2018, surgiu um contacto por parte da Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares para desenvolver um projeto com a FPME envolvendo a escalada. Agendámos a visita e em conversa com o técnico de desporto falámos das falésias junto ao “Complexo de Piscinas da Fraga” e no local explicámos que estas poderiam ter de facto um potencial para a iniciação à modalidade com características e valências muito próprias.
Aliado a este projeto está também a dinâmica emergente relativamente à escalada em rocha sob a égide da FPME, com iniciativas regulares e estruturadas promovidas por uma equipa multidisciplinar de técnicos voluntários. Passou o inverno, já em 2019, com uma equipa de trabalho e com ideias e objetivos bem definidos, lançamo-nos no primeiro projeto de equipamento de uma zona de escalada dirigido pela FPME, onde o desafio em dar vida a uma nova zona de escalada com tais caraterísticas, coloca-nos perfeitamente alinhados com o desígnio acima referido.
A Zona de Escalada da Fraga situa-se na freguesia de São Miguel, em Vila Nova de Poiares e nasceu da parceria entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares e a Federação Promotora de Montanhismo e Escalada com o objetivo de proporcionar aos praticantes, mais uma possibilidade de prática de escalada na zona centro do país.
No entanto, as particularidades da rocha e das vias propriamente ditas permitem o contacto com modalidade para diferentes níveis de experiência dos escaladores, sendo que, a maioria das vias são para o nível de iniciação, estabelecendo assim, uma identidade própria.
A experiência em praticar escalada na Zona de Escalada da Fraga pode ir de encontro ao enquadramento com crianças, jovens e até adultos que estão na fase de iniciação da modalidade, permitindo também uma evolução do nível de escalada. Aliada à escalada está também o lazer, nomeadamente nos meses de verão, com a visita ao complexo de Piscinas da Fraga a pouco mais de cinco minutos a pé.
Localizados na proximidade do complexo de Piscinas da Fraga, os afloramentos rochosos de quartzito, têm uma orientação de leste o que possibilita a prática da escalada em quase todo o ano. Nos dias soalheiros de inverno a prática pode realizar-se nos períodos da manhã e nos períodos da tarde nos meses mais quentes do verão.
Nos quatro setores de escalada, o tipo de presa predominante é a “reglete”, sendo que no setor de iniciação as presas são mais ”generosas”, dando a este setor um perfil para a iniciação e introdução da modalidade nas faixas etárias mais jovens - as vias de escalada, permitem o primeiro contacto e enquadramento junto de crianças e jovens e, mesmo para adultos que estão a iniciar a modalidade.
No setor “Miradouro”, podemos contemplar a vista não só perante o Vale da Fraga mas também para Vila Nova de Poiares. Neste setor encontram-se cinco vias com dificuldades do IV+ ao 6c. Altura das vias: 8 a 10 metros.
Segundo a lenda, numa pequena gruta de um dos penedos do Monte da Fraga, viveu um mouro com a sua família, daqui derivando o nome do “Penedo Mouro”, neste setor estão equipadas duas vias na gruta com uma dificuldade superior (6c e 7a). Altura das vias: 8 metros.
No lado oposto do vale, existe um outro penedo que segundo os populares, a designação de “Penedo da Desgraça”, deve-se ao facto da dificuldade em vencer o desnível na busca de lenha e pasto para os animais.
Aqui encontra-se a maior concentração de vias, 19 no total, ofeecendo aos praticantes, vias de qualidade e diversidade técnica até à dificuldade de 7b+. Ainda neste sector, encontra-se a primeira via de escalada aberta nesta escola, no ano de 2007, por José Miguel Pereira. A via “Zé Cogumelo” é uma via de autoproteção, sendo necessários os respetivos equipamentos - a reunião está equipada. Altura das vias: 10 a 18 metros.
A “Rua Sésamo” é o ex-libris desta zona para a iniciação à escalada, oferecendo aos praticantes de todas as faixas etárias, quinze vias com dificuldade do III grau ao 6a - é sem dúvida o sector onde o conceito “escalada em família” serve na perfeição. Tem a particularidade da existência de duas vias que permitem a iniciação à escalada “multi-largos”. Altura das vias: 5 a 15 metros.
Participaram neste projeto: Filipe Cardinal, João Évora, Rodrigo Lemos, Francisco Crisanto, Luís Belo, Bruno Gaspar, Natália Pereira, Sérgio Sá, Marco Cunha e Margarida Silva.
Agradecemos o envolvimento, empenho e recursos disponibilizados pela Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares e Junta de Freguesia de São Miguel de Poiares para a concretização de todas as fases deste projeto. Por fim um agradecimento especial ao fotógrafo Fábio Silva pela ajuda na captação de imagens.
Bruno Gaspar
Ferraria de S. João
Preâmbulo
Inserida no Programa Aldeias do Xisto a Ferraria de S. João é uma pequena e humilde aldeia pertencente à freguesia da Cumieira, Penela. A aldeia situa-se na parte sul da Serra da Lousã, localmente denominada Serra do Espinhal também conhecida como Serra de São João.
Ladeada por uma formidável franja quartzítica e com um magnífico sobreiral no sopé, esta aldeia oferece a quem a visita, uma verdadeira imersão na natureza.
Ali é possível contemplar a riqueza paisagística e cultural tão característica das aldeias rurais. A simplicidade da aldeia abre espaço para usufruir de bons momentos de descanso após um dia de escalada. O Centro de BTT complementa muito bem nos dias em que os braços não oferecem o rendimento necessário.
Segundo os registos históricos desta interessante falésia, apelidada de Fraga Vermelha, as primeiras vias nasceram pelas mãos do Marco Inácio, Nelson Cunha e Rafael Lopes em 2007, na mesma altura que equiparam as vias nas Fragas do Cercal.
O tipo de escalada varia bastante, assim como o tipo de presas com predominância em regletes. Na parte central a estrutura da falésia é composta por pequenos tectos, diedros e arestas que proporcionam uma escalada tridimensional, desafiando a imaginação, a flexibilidade e a força.
Uma das características que também se destaca são as cores desta falésia, resultado da existência de algumas zonas com liquens, colorindo de forma parcial, a parede de amarelo e de tons vermelho-acastanhado, mais abundante, resultado da presença de óxido de ferro muito provavelmente dando origem ao seu nome.
Acto I
Decorria o ano de 2018.
Num fim de semana em que a meteorologia não se apresentava favorável em todo o território nacional, (a chuva ameaçava até ao Reguengo do Fetal) a escolha do local para ir escalar não foi tarefa fácil. Apesar do cenário, motivados pelo potencial da zona e por nos ser desconhecido, a escolha recaiu sobre a Fraga Vermelha, nunca tinha sido visitada nem por mim nem pelo MC, apenas eu tinha estado na Fraga Loureira e restantes sectores das Fragas do Cercal um par de vezes.
Ficou claro desde os primeiros minutos que chegámos, de que seria um local onde iríamos passar largos dias.
Nesses dois dias escalamos todas as vias da Fraga Vermelha e Fraga Loureira. As próximas visitas seriam de Hilti em riste, caixas de pernos, brocas e plaquetes!
Com uma cirurgia marcada na semana seguinte e que, consequentemente levaria a uma reccuperação de cerca de dois meses, fizemos um pacto para regressarmos apenas quando estivesse recuperado e assim partilharmos os momentos pendurados a furar e partir pedra, ou pelo menos assim esperava…
Algumas semanas mais tarde começam a surgir as primeiras mensagens de alguns projectos de oitavo grau! O pacto tinha sido alterado. A inquietude foi mais forte ficando a promessa de uma pequena área reservada. Sem saber o prazo dessa reserva, apresso o mais que consigo na fisioterapia, os rumores de que estaria tudo equipado dão origem a uma motivação extra e quando dou por mim estou a equipar, a minha primeira via no sector. Foi assim assinado o “ Pacto de Basófia”.
Acto II
Estávamos em guerra.
Não seria uma guerra entre ambos, mas sim contra um sistema. “Os Campistadores do Inútil” eram então, um movimento portador de uma ideologia oportunista e sem escrúpulos, assentes numa propaganda bem elaborada que tem como objectivo moldar as mentes mais frágeis e vulneráveis em favor próprio, aplicando muitas vezes, técnicas desenvolvidas em tendas tipo iglu criados especificamente para o efeito.
Estas técnicas consistiam muitas vezes na introdução de €€ em locais privados e particulares onde estes tipo de indivíduos podiam aceder livremente e ter acesso facilitado e directo a bens e serviços. A estes esquemas, entre outros, ficaram conhecidos mais tarde como “Matriosca Campista”.
Foi com o propósito de combater este tipo de crueldade que nasceram os “Bolchevikings” uma força que defende a revolução e uma mudança radical dos interesses do regime em prol do povo.
Era conhecimento de que estes actos eram aplicados sobretudo numa região onde havia maior concentração de indivíduos com a mesma linha de pensamento. Embora estivessem destacados camaradas na área mais afectada, foi necessário activar o plano “Cortina de Ferro” inicialmente projectada como uma linha imaginária que servia essencialmente para separar duas formas distintas de pensamento na esperança de não contagiar um povo mais pobre, menos educado, envelhecido e concentrado em lares.
Não sendo eficaz o suficiente foi urgente encontrar uma solução. A utilização de uma arma química à base de "Campicida" chegou a ser estudada mas a decisão foi construir algo mais físico dando origem ao “Mouro de Berlin”, deste modo sempre conseguiríamos enviar a fatura.
Nesta época que se vivia, conhecida agora como a “Perestroika”, havia uma facção que se afirmava independente e sem posição ideológica que ansiava ingenuamente por um “Armistício”. Coincidentemente, o aparecimento do “Pássaro de Fogo”[1], veio anunciar o fim da “Guerra e Paz”[2], baralhando ainda mais uma situação na já instaurada “Guerra sobre a Guerra”.
Desta forma se perpetuará uma luta onde um dos interesses dos Bolchevikings será derrotar um sistema onde o nepotismo serve apenas para manter a fachada bem pintada.
Nota: Qualquer semelhança com a ficção é pura realidade.
Rodrigo Lemos (Rodas)
[1] Figura da mitologia Nórdica que assume a forma de um pássaro mágico brilhante, que é ao mesmo tempo uma bênção e um portador de desgraça ao seu captor.
[2] Livro de Liev Tosltói que será adaptado para o cinema com a produção confirmada em “Horllywood”.
Informações Práticas
Localização e Acesso à Zona de Escalada:
O Monte de S. Mamede situa-se a norte do concelho da Póvoa de Lanhoso, eleva-se perto dos 750m de altitude e é um miradouro para a Serra do Gerês e do vale do Cávado, da serra até ao mar. O acesso é feito pela N103, o monte encontra-se do lado direito, para quem se desloca no sentido Póvoa de Lanhoso - Cerdeirinhas e o desvio para o mesmo encontra-se sinalizado. A zona de escalada está dispersa por vários pequenos sectores. O número de vias por sector não excede as 10, há exceção do sector do Desfiladeiro/Atrasado que tem perto de 20 vias e do sector dos Cavalos com pouco mais de 20 vias. No total, o número de vias desta zona de escalada ronda as 60. É uma Zona de Escalada preferencialmente para dias de temperatura amena a cálida. Por ser um monte bastante exposto, deve-se evitar os dias frios e ventosos de inverno bem como os dias mais quentes do ano. Em época de chuva tarda a secar, além de agravar a débil condição dos seus delicados gratons.
Acesso ao Sector dos Cavalos:
Sector encontra-se a 620m de altitude, no lado noroeste do monte. Apesar das vias terem várias orientações, as principais só permanecem à sombra, da parte da manhã até ao princípio da tarde. Este é o sector com acesso mais longo, em especial devido ao mau estado de conservação do estradão de terra batida. Assim, ficam 3 sugestões de acesso para não se aventurarem ao engano.
Clássico
Quem sobe para o topo do monte pela estrada de paralelo, a meia encosta, vai encontrar à esquerda junto a uma Acácia que se destaca, um desvio por um estradão de terra batida. É o mesmo estradão que dá acesso ao Sector do Desfiladeiro. No entanto, não costuma estar no melhor estado de transitabilidade, exigindo alguma paciência, perícia e confiança na robustez da viatura. Normalmente a minha confiança permite-me levar o carro até ao ponto registado no mapa. Daí são aproximadamente 10 minutos de caminhada até ao sector. Seguindo o mesmo caminho chegarão a uma bifurcação. Podem optar por ambos os caminhos, o da esquerda passará pelo Sector do Desfiladeiro, com vista para o vale do Cávado, percorrendo mais à cota. O da direita tem inicialmente uma pequena subida que compensa pela paisagem que se tem sobre a serra do Gerês.
Atlético
Se gostas da pintura metalizada do teu carro, se consideras que o risco de incêndio é elevado ou se andas a treinar para os Alpes, este é o acesso menos comprometedor. Antes de chegar ao desvio para o Monte S. Mamede, vais encontrar um desvio para Parada de Bouro. É seguir a estrada M595-2, passar a aldeia de Sobradelo e estacionar um pouco mais à frente no largo de terra batida, junto a um muro do lado direito da estrada. Daqui há que subir o estradão de terra batida virando na primeira bifurcação à esquerda. São aproximadamente cerca de 15 minutos de acesso para quem já está com ritmo de enfrentar 200m de desnível.
Paisagístico
Outra opção, é deixar o carro no topo do monte junto ao parque de merendas.
O acesso é o mesmo que nos leva até aos Sectores Mero e Fissuras, seguindo depois o mesmo caminho de pé posto que nos levará até ao estradão onde passam os cabos de alta tensão. Daí é só seguir o estradão até encontrar o Sector dos Cavalos. É uma agradável, mas longa caminhada, que pode tardar 25 minutos a percorrer.
Escaladas pela Orla Granítica – Sector dos Cavalos – Monte de S. Mamede - Gerês
O Monte de S. Mamede fica situado na “Orla Granítica” desse grande reino rochoso que é a Serra do Gerês e que se estende até à Serra da Peneda. Ambas as serras, devido a todo esse “mar” de rocha, estão inevitavelmente ligadas à evolução da escalada no norte do País. A Peneda com aberturas e equipamentos mais faustosos, fruto de uma presença galega bem demarcada. No Gerês, prevaleceram as aberturas nacionais, em especial pelas mãos de escaladores da zona do Porto, onde deixaram um legado assente num estilo mais selvagem, mas também mais genuíno. Apesar de, no que toca a aberturas, só haver um estilo, o Bom, porque o mau nem sequer é digno desse nome. E nem sempre estamos nos melhores dias, por isso, nesses é melhor irmos à praia, ou ficarmos pela caminhada, ou até mesmo porque não, passarmos direto para a parte das cervejas!?
S. Mamede, apesar de não ser uma zona com tradição de grandes aberturas, não passou despercebido aos escaladores e foi sofrendo alguns pequenos equipamentos e aberturas ao longo de mais de 30 anos de história, espaçados no tempo. Os primeiros relatos de vias apontam para as grandes placas situadas na face nordeste do monte. No local estas passam despercebidas, dado o seu perfil pouco vertical. Saltam mais à vista, quando observadas de longe, da estrada das Cerdeirinhas, de quem baixa para Rio Caldo e nos leva para o Gerês. Possivelmente foi essa visão que atraiu os primeiros escaladores, provavelmente da zona do Porto, ligados ao CNM e mais direcionados para vias longas em busca de um terreno mais de aventura.
No entanto, por essa mesma época começaram a surgir as primeiras vias no grande monólito granítico do Monte do Pilar pelas mãos dos inevitáveis irmãos Pacheco. Com uma localização mais central, muito perto de Braga e encostado à Vila da Póvoa de Lanhoso e somando a essas características, a qualidade da rocha, verticalidade e altura das linhas, não deixava grande margem para que os raros equipadores e aberturistas dispersassem muito as suas energias com outras zonas na proximidade.
Curioso é perceber, que pouco mais de 10 anos depois, por volta de 2003, o ressurgimento de novas vias de escalada no Monte de S. Mamede, está de uma certa forma relacionado com o estado de quase abandono da zona de escalada do Monte do Pilar. Pelo estilo de escalada ter possivelmente caído em desuso, pelo facto de se poder levar com uma lata de refrigerante na cabeça, ou a probabilidade de ser também alvo de alguns comentários brejeiros e a “má” fama dos “runouts”, poderiam ter sido causas suficientes para que aos poucos uma capa verde de musgo começasse a encobrir as vias.
Procurando soluções para a prática de escalada em rocha perto de Braga, uma nova geração de escaladores, que surgiu com o núcleo de escalada da Universidade do Minho orientados por Jorge Martins, viram-se para o Monte de S. Mamede. Começam a surgir novas vias, novos sectores, equipadas por: Jorge Martins, Carlos Baquero, Miguel Ferreira (“Zimba”) e David Moutinho. Juntam-se ao esforço de equipamento e limpeza das vias escaladores dessa nova geração da Universidade do Minho, como: Albano Teixeira, Nuno Capela, Ricarda, Pamela Domingues, Helena Fialho, Vanessa Pereira… Outros escaladores da zona do Porto, como Carlos Araújo, aproveitam também por esta altura para equipar novas vias e deixar algumas aberturas de autoproteção, dando um carácter mais celta à zona, onde vias de clássica e desportivas convivem dentro de um mesmo sector. Prevalece as características naturais da rocha para a autoproteção, em detrimento de um tipo de escalada previamente definido.
Aproveitando esse surgimento de novas vias, em 2005, fui escalar ao Monte de S. Mamede, na companhia de Paulo Soares (“Paulinho”) e Jorge Martins. Despertado pela motivação e curiosidade e sendo um aprendiz de equipador, levou-me em busca de um recanto onde pudesse expressar a necessidade de equipar vias; vendo agora, mesmo que de forma tímida e envergonhada. Essa oportunidade surgir com a descoberta do Sector dos Cavalos, assim chamado pelo facto dos garranos e do gado que vagueia pelo monte, aproveitarem o local para se refugiarem do calor.
Uma sucessão de felizes coincidências fez com que esses envergonhados equipamentos, fossem sendo adiados. Umas vezes porque achei melhor ficar só pela caminhada, outras porque fui tendo boas referências e fui ganhando noção dos vários aspetos a ter em conta quando se decide equipar um sector de escalada e outras ainda, que não interessam aqui para o assunto.
Com o meu regresso ao norte, no final de 2009, fui despertando para maior interesse pelas formações rochosas locais. E num dia quente de junho, de visita às novas vias do Sector do Desfiladeiro, na companhia do meu amigo meio bracarense meio mirandês, Paulo Peixoto, ressurgiu o interesse pela escalada em S. Mamede, trazida pela agradável surpresa das novas vias e pela brisa fresca que se fazia sentir no monte.
Até que em junho de 2013, depois de umas quantas caminhadas para ver melhor o sector, “ver com olhos de ver”, sem palas, fui decidido a não ficar só pela caminhada. Acedi ao topo do calhau por uma trepada pouco aconselhada e fixada a corda, equipei a primeira via. Curiosamente, ou não, era a linha evidente de presa que tinha na cabeça e que alimentava a minha vontade de equipar nos Cavalos. Nesse dia o evidente pareceu-me mais subjetivo. Será que me esqueci de tirar as palas? Mas as chapas já estavam lançadas… Talvez se lhe desse o nome de um cavalo indomável pudesse ofuscar essa subjetividade.
Foi bom durante tantos anos ter ficado só pela caminhada. Hoje reconheço, que dado o carácter de algumas vias, esperar todos esses anos permitiu que deixasse de ser um equipamento envergonhado para ser assumidamente consciente. Bem, talvez possa haver alguma via no limiar do consciente, mas nunca no limiar do envergonhado.
Marco Cunha
O Extreme Mini Milk é uma pequena parede vertical à sombra durante quase todo o dia com um pequeno teto nas vias à esquerda do sector. As vias são curtas e proporcionam um estilo mais “bloqueiro”.
O sector Senhores de Poios, que dá nome a um encontro de escaladores/maratona de escalada realizado em 2005, encontra-se na vertente Nordeste do Vale de Poios entre os sectores Ponta do Vale e Microondas. É sector com três zonas distintas na sua maioria em vias verticais, onde predomina o sexto grau
Na zona central do sector encontramos algumas vias atléticas interessantes, com passos de bloco em presa grande e de inclinação negativa. Mais a sul e com uma maior concentração de vias, esta zona do sector, possui uma parede vertical à direita e uma pequena cova à esquerda, onde se encontram algumas vias de presa mais “afiada”, não tão polida em comparação com o sector Microondas, por exemplo. As formas das presas em “bidedos” abundantes e, passos atléticos caracterizam este sector, com uma vista fantástica sobre o fundo do vale, onde facilmente avistamos o sector Sol Poente.
Sombrio até ao meio da manhã, aconselhável a visita durante o final do Outono até ao final da Primavera, onde o sol incide com intensidade em dias limpos durante todo ano.