Vila Nova de Poiares - Fraga

 

 

 

 
 
 
croqui poiares A41
 
croqui poiares A42
 
 
 

ZONA DE ESCALADA DA FRAGA, Vila Nova de Poiares

Uma zona de escalada quase exclusiva para iniciação e para os diferentes níveis etários nem sempre é fácil encontrar no nosso país e mesmo as vias de grau mais acessível dos sectores de escalada que encontramos nem sempre permitem a iniciação para os mais jovens. É comum em França, Espanha e em toda a Europa encontrar em muitas zonas de escalada, vias que proporcionam o ambiente familiar com muitas crianças a escalar de forma autónoma. Quando mergulhamos na realidade portuguesa não encontramos isso tão facilmente. Não será um dos fatores que condicionam a evolução da escalada em Portugal?

A FPME tem presente que para o desenvolvimento de uma zona de escalada com tais características, é necessária a parceria com entidades públicas, municípios, clubes entre outros organismos para que assim se cumpram os desígnios a que a Federação se propõe para o desenvolvimento da modalidade.

Recuemos um pouco até ao início de 2018.


16

Numa conversa antiga com o José Miguel Pereira (autor da primeira via no Penedo da Desgraça) falou-se de uma falésia em Vila Nova de Poiares com potencial para abertura de vias de desportiva. Aproveitando um dos momentos em que tais memórias vêm à cabeça, decidi visitar o local. 

 Chegado a Vila Nova de Poiares, na rotunda que demarca a interseção da famosa Nacional 2 com a EN17, avistei uma linha de cumeada à minha esquerda e deduzi que seria o local que correspondia à descrição do José Miguel. Já na EN17, perto do local, rumei à minha direita em direção ao “Complexo de Piscinas da Fraga”. Continuando na estrada principal até à aldeia de Alveite Grande, deparei-me com uma falésia de quartzito, estacionei o carro e na estrada orientado de frente para a dita falésia, a uma distância de aproximadamente 100 metros, apreciei de facto a existência do potencial, “agora faltava confirmar”. Feita a aproximação ao sector principal surgiram-me algumas dúvidas, não pela qualidade da rocha e da escalada, mas sim pelo investimento de material e empenho que seriam necessários para a criação de uma zona de escalada. 

20

Após ter reconhecido o sector mais evidente, fiz uma abordagem aos afloramentos rochosos mais acima e fui surpreendido por uma pequena falésia, escondida por sobreiros queimados e por jovens eucaliptos, que rompiam as terras sofridas pelo violento incêndio de outubro de 2017. Descrevendo a surpresa ao ver a pequena falésia, se me permitem, veio-me à memória uma experiência de escalada em Ailefroide (França), num sector de vias de placa onde observei crianças com idades de 8 a 10 anos perfeitamente autónomas a escalar. Realidade muito rara em Portugal, infelizmente. Voltando ao potencial sector de escalada, não de vias de dificuldade, mas sim de iniciação à prática, este sector poderia servir muito bem para o enquadramento da modalidade para os mais jovens.

No entanto, a pretensão em dar vida a uma nova zona de escalada ficaria a marinar por algum tempo, seria necessário encontrar tempo, motivação e meios. Na realidade, ao refletir sobre o que vi, rapidamente cheguei à conclusão que para este local serviria um projeto entre a Federação e a Autarquia.

Por coincidência no final do verão de 2018, surgiu um contacto por parte da Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares para desenvolver um projeto com a FPME envolvendo a escalada. Agendámos a visita e em conversa com o técnico de desporto falámos das falésias junto ao “Complexo de Piscinas da Fraga” e no local explicámos que estas poderiam ter de facto um potencial para a iniciação à modalidade com características e valências muito próprias.

12

Aliado a este projeto está também a dinâmica emergente relativamente à escalada em rocha sob a égide da FPME, com iniciativas regulares e estruturadas promovidas por uma equipa multidisciplinar de técnicos voluntários. Passou o inverno, já em 2019, com uma equipa de trabalho e com ideias e objetivos bem definidos, lançamo-nos no primeiro projeto de equipamento de uma zona de escalada dirigido pela FPME, onde o desafio em dar vida a uma nova zona de escalada com tais caraterísticas, coloca-nos perfeitamente alinhados com o desígnio acima referido.

          A Zona de Escalada da Fraga situa-se na freguesia de São Miguel, em Vila Nova de Poiares e nasceu da parceria entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares e a Federação Promotora de Montanhismo e Escalada com o objetivo de proporcionar aos praticantes, mais uma possibilidade de prática de escalada na zona centro do país. 

No entanto, as particularidades da rocha e das vias propriamente ditas permitem o contacto com modalidade para diferentes níveis de experiência dos escaladores, sendo que, a maioria das vias são para o nível de iniciação, estabelecendo assim, uma identidade própria.

A experiência em praticar escalada na Zona de Escalada da Fraga pode ir de encontro ao enquadramento com crianças, jovens e até adultos que estão na fase de iniciação da modalidade, permitindo também uma evolução do nível de escalada. Aliada à escalada está também o lazer, nomeadamente nos meses de verão, com a visita ao complexo de Piscinas da Fraga a pouco mais de cinco minutos a pé.

0708Localizados na proximidade do complexo de Piscinas da Fraga, os afloramentos rochosos de quartzito, têm uma orientação de leste o que possibilita a prática da escalada em quase todo o ano. Nos dias soalheiros de inverno a prática pode realizar-se nos períodos da manhã e nos períodos da tarde nos meses mais quentes do verão.

Nos quatro setores de escalada, o tipo de presa predominante é a “reglete”, sendo que no setor de iniciação as presas são mais ”generosas”, dando a este setor um  perfil para a iniciação e introdução da modalidade nas faixas etárias mais jovens - as vias de escalada, permitem o primeiro contacto e enquadramento junto de crianças e jovens e, mesmo para adultos que estão a iniciar a modalidade. 

No setor “Miradouro”, podemos contemplar a vista não só perante o Vale da Fraga mas também para Vila Nova de Poiares. Neste setor encontram-se cinco vias com dificuldades do IV+ ao 6c. Altura das vias: 8 a 10 metros.

Segundo a lenda, numa pequena gruta de um dos penedos do Monte da Fraga, viveu um mouro com a sua família, daqui derivando o nome do “Penedo Mouro”, neste setor estão equipadas duas vias na gruta com uma dificuldade superior (6c e 7a). Altura das vias: 8 metros.

01No lado oposto do vale, existe um outro penedo que segundo os populares, a designação de “Penedo da Desgraça”, deve-se ao facto da dificuldade em vencer o desnível na busca de lenha e pasto para os animais. 

Aqui encontra-se a maior concentração de vias, 19 no total, ofeecendo aos praticantes, vias de qualidade e diversidade técnica até à dificuldade de 7b+. Ainda neste sector, encontra-se a primeira via de escalada aberta nesta escola, no ano de 2007, por José Miguel Pereira. A via “Zé Cogumelo” é uma via de autoproteção, sendo necessários os respetivos equipamentos - a reunião está equipada. Altura das vias: 10 a 18 metros.

10A “Rua Sésamo” é o ex-libris desta zona para a iniciação à escalada, oferecendo aos praticantes de todas as faixas etárias, quinze vias com dificuldade do III grau ao 6a - é sem dúvida o sector onde o conceito “escalada em família” serve na perfeição. Tem a particularidade da existência de duas vias que permitem a iniciação à escalada “multi-largos”. Altura das vias: 5 a 15 metros.

Participaram neste projeto: Filipe Cardinal, João Évora, Rodrigo Lemos, Francisco Crisanto, Luís Belo, Bruno Gaspar, Natália Pereira, Sérgio Sá, Marco Cunha e Margarida Silva.

            Agradecemos o envolvimento, empenho e recursos disponibilizados pela Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares e Junta de Freguesia de São Miguel de Poiares para a concretização de todas as fases deste projeto. Por fim um agradecimento especial ao fotógrafo Fábio Silva pela ajuda na captação de imagens. 

Bruno Gaspar

18